A menina alface se aproximava do palácio. Os três pequenos seguiam com ela... nenhuma palavra era trocada entre eles.
Ela estava perdida em seus pensamentos. Tinha mais lembranças do que esperanças. "A vida é água que flui. Não tente segurá-la ou terá que lamentar ver que sempre te escorre entre os dedos. Deixa a vida fluir". Se não menina levaria estas palavras ao pé da letra. Mas era menina, e não apenas alface. Ela sabia o real significado dessas palavras.
Não tinha esse conhecimento somente por ser menina, quantas meninas existiriam no mundo que nem ao menos se permitiram pensar a respeito...
Ela era menina alface. Transformada, por coragem e medo. Lembram de seu primeiro medo? Ser cortada, ser vendida, ser comida.
Ela quase explodiu na vontade de responder àquela voz tão doce que cantarolava, que cuidava de suas folhas e lhe fazia companhia. Mas nada aconteceu de fato.
Foi o medo que lhe deu as forças necessárias. Ela se tornou menina alface. Não havia, porém, lutado contra seu destino, contra o curso de sua vida. Se assim fosse não estaria, neste momento, a caminho do palácio. Ela havia lutado contra as represas que lhe haviam imposto. No momento que o medo fez soltar toda sua voz, a menina acordou ao som de seus próprios pensamentos.
Como menina alface, transformada, ela sabia que até o mais belo dos dizeres poderiam, aos ignorantes, soar como praga.
Ela continuaria: "Deixa a vida fluir. Quebra as barreiras.. e deixa a vida fluir.
[escrito por Alface-Mor Fernanda]